Pesquisa na Itália

Professor do IFSULDEMINAS – Campus Machado desenvolve pós-doc na Itália sobre comércio justo.

O mercado justo ou Fair Trade tem ganhado corpo nos últimos anos em vários países do mundo, principalmente quando relacionado a culturas como a do café. A ideia original desse comércio é contribuir para o desenvolvimento sustentável, ao proporcionar melhores condições de venda e a garantia dos direitos para produtores e trabalhadores marginalizados. No IFSULDEMINAS, o docente e pesquisador Sérgio Pedini, lotado no campus Machado, se dedica há mais de 30 anos a tais estudos. Atualmente, Pedini, como é mais conhecido, encontra-se no Departamento de Ciências Agrárias, Alimentares e Ambientais da Universidade de Perugia, www.unipg.it, na Itália, local em que ficará até junho de 2017.  Lá, desenvolve seu pós-doutoramento em Fair Trade e Agroecologia, após participar do Edital 002/2015, que prevê o afastamento, sem bolsa, do instituto federal. “Me sinto honrado em representar nossa instituição e nosso país por aqui. É uma oportunidade única de manter contato com povos e culturas diferentes; conhecer outra realidade consumidora desses produtos, continuar apoiando a cafeicultura familiar brasileira e, ainda, poder ministrar aulas e cursos nesta universidade espetacular, nascida em 1308”, disse. 

A pesquisa

O foco da nova pesquisa concentra-se na melhor compreensão da cadeia do comércio justo na Europa, com atenção especial ao café e ao mercado italiano. “Para isso, estou fazendo levantamentos bibliográficos, entrevistando os atores dessa cadeia (empresas, certificadoras, organizações de consumidores) e utilizarei também os dados coletados no Brasil, antes de minha saída, junto às organizações certificadas Fair Trade de Café”, explicou. Pedini ainda participa, com professores e discentes do instituto federal, de Grupos de Pesquisa e Extensão – GPEX, como um projeto que faz o levantamento da produção de café fair trade no país, no âmbito da BRFair (Associação das Organizações de Produtores Fairtrade do Brasil). O trabalho, que conta com a participação da professora Michelle Nery, da aluna Thaís Magalhães - Campus Pouso Alegre, e do analista de TI da Reitoria, Márcio Prado, evoluiu para um sistema informatizado e uma página na Internet.

Aulas para os italianos

Convidado a lecionar parte de conteúdos de disciplinas dos cursos de ciências agrárias da Universidade, sempre nesse tema,pretende aprimorar os conhecimentos e, segundo defende, auxiliar melhor o IFSULDEMINAS e as organizações com quem o Instituto possui parceria. Por isso é considerado como visiting researcher e visiting professor. “Sou grato por estar aqui em um momento tão diverso e, porque não dizer turbulento, mas rico em transformações econômicas, sociais e culturais. Fico cada vez mais mais convicto de que somente a solidariedade e o diálogo serão capazes de superar todas as dificuldades. Principalmente as enfrentadas pelos "imigrantes" (eu os chamaria de seres humanos em busca de uma vida mais digna), exatamente como aconteceu com meus pais que, como tantos, emigraram da Europa para o Brasil na década de 1950, período difícil do pós-guerra, mas sendo extremamente bem acolhidos em nosso país”.  

Dipartimento Di Scienze Agrarie

O Dipartimento Di Scienze Agrarie, Alimentari e Ambientali http://dsa3.unipg.it/, criado em 1896, possui cursos nas áreas de alimentos, agricultura e veterinária. De acordo com Pedini, “são diversos os setores de pesquisa, muitos ligados à agroecologia (agricoltura biologica) e fair trade (acommercio equo). Meu interesse sempre foi o de fazer o pós-doutorado sobre esses temas na Europa, onde são mais antigos e desenvolvidos. A escolha pela Itália foi a língua, pois falo inglês e italiano, o que facilita a vida acadêmica e a operacional. Fui pesquisando os trabalhos de italianos e encontrei o professor Fabio Maria Santucci, com quem comecei a fazer contato no início de 2015. Ele é o responsável pela coordenação de relações internacionais da Universidade, o que facilitou bastante o processo. Fiz uma solicitação e, como não necessitaria de uma bolsa da universidade, foi me dada a carta de aceite. Com ela, participei do edital e fui selecionado em novembro”. 

Pedini está instalado em Santa Maria Degli Angeli, Assisi, cidade próxima de Perugia, pois o custo é menor. “Entrei com o pedido de bolsa junto ao CNPq, mas todas as pós-graduações no exterior foram bloqueadas e suspensas pelo governo provisório”.
Durante a carreira acadêmica, lecionou nas áreas de Agricultura Geral, Agroindústria, Sociologia, Agroecologia e Cafeicultura Orgânica. “Não fiquei nenhum semestre sem atuar em sala. Sempre trabalhei em projetos de extensão e pesquisa ligados à Agroecologia e ao Comércio Justo. No doutorado, pesquisei a produção brasileira de café fair trade certificado (convencional e orgânico). A tese acabou ficando limitada, pois só pude pesquisar e entrevistar os atores brasileiros (produtores, cooperativas, certificadoras e compradores). Meu objetivo na Europa é continuar, mas agora envolvendo os atores do "outro lado": importadores, distribuidores, torrefadores, supermercados, lojas e consumidores. Antes de vir para cá, me aproximei da BRFair (parceira do IFSULDEMINAS), que é uma organização de associações e cooperativas certificadas fair trade, na qual entrevistei 19 dirigentes. Todo esse material será utilizado por mim aqui. A ideia é entender melhor essa cadeia para fazer com que nosso trabalho, como Instituto, possa ser aprimorado e esse sistema possa ser expandido e melhor gerenciado pelos agricultores. Isso envolve ações de ensino, pesquisa e extensão que pretendo ampliar e aprimorar no meu retorno”, destacou.

Família – a base

Pedini é filho de europeus (pai italiano, falecido e mãe portuguesa). “Eram de famílias de agricultores; meu pai meeiro na Itália. Se estabeleceram em São Paulo onde se conheceram, casaram e tiveram filhos. Tenho a cidadania italiana desde 1989 e sempre gostei da cultura e da língua. Por isso, falo italiano desde muito jovem. Sempre me envolvi com Agroecologia (meu primeiro contato com o tema foi em 1985, quando conheci e me encantei com a Ana Primavesi) e com a agricultura familiar”. (A engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi nasceu na Áustria. Foi a responsável por avanços no campo de estudo das ciências do solo em geral, em especial o manejo ecológico do solo. Publicou 94 artigos científicos no Brasil e em revistas internacionais. Além disso, escreveu 11 livros e colaborou em inúmeras outros publicações.)

Carreira

Nascido em São Paulo, em 25 de agosto de 1965, Pedini concluiu o ensino básico (fundamental e médio) na capital paulista. Na faculdade, cursa Engenharia Agronômica na UFLA - Universidade Federal de Lavras, de 1984 a 1987, onde realizou atividades extracurriculares voltadas à agroecologia e a iniciação científica. Milita nesse tema em 1987 por meio da CPT - Comissão Pastoral da Terra, quando conheceu o Centro de Assessoria Sapucaí, em Pouso Alegre, e o grupo de Poço Fundo. Em 1989 ajudou a fundar uma ONG em Lavras, o CEDAPA, do qual foi presidente até 1990, atuando junto aos STRs - Sindicatos de Trabalhadores Rurais e associações do Sul de Minas Gerais. Conclui o mestrado em Administração Rural na UFLA em 1993, com dissertação sobre o tema: "Agricultura Alternativa e Pequena Produção". No final de 1990 entra como engenheiro agrônomo e auditor de agricultura orgânica na AAO - Associação de Agricultura Orgânica, na qual permanece até 1996, quando se transfere para Vargem Grande do Sul, SP, e se reaproxima do Sul de Minas, do Sapucaí e, finalmente, da Escola Agrotécnica de Machado em 1999, onde ingressa como professor substituto por um ano. De 1999 a 2002 ministra cursos e organiza eventos junto a agricultores familiares e suas organizações na FADEMA - Fundação de Apoio de Machado. Trabalha ainda com a ESACMA - Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado, no curso de Agronomia, até 2003.

A partir de 2003, como efetivo da Escola Agrotécnica, passa a atuar como professor de cursos técnicos e superiores, além de coordenar projetos de extensão. No campus, foi coordenador do CIEC (Extensão), Diretor do Departamento de Ensino, coordenador de curso superior e membro de várias comissões. De 2007 a 2008 participa da comissão de criação do IFSULDEMINAS. Em 2009 assume como Pró-Reitor de Ensino, em Pouso Alegre, e é eleito Reitor em abril de 2010, permanecendo no cargo até agosto de 2014. Nesse período, assume como vice-presidente do Conif - Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. É representante na CNS - Comissão Nacional de Supervisão (PCCTAE); no CPPG - Comitê Permanente de Planejamento e Gestão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e membro titular do CPRSC - Conselho Permanente do Reconhecimento de Saberes e Competências. Conclui o doutorado em Administração na UFLA em 2011, na área de "Fair Trade - Comércio Justo e Solidário".

Texto:Ascom Machado (com informações do Professor Sérgio Pedini)
Fotos: Arquivo Pessoal
09/08/2016