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Reflexões de futuros professores - Pibid Pouso Alegre

Orfeu toca sua harpa para as fúrias
Fonte: Bibliothèque nationale de France

26/04/2019 -

“Aplaquem-se comigo” (GLUCK; CALZABIGI, 1762, p.?) é o que Orfeu diz às fúrias que apodreciam junto aos portões do Tártaro. Seu objetivo era alcançar sua amada, a defunta Eurídice, nos campos Elísios, porém, antes, devia desbravar os infernos e defender-se de demônios como estes, que desdenhavam de seu luto. O mesmo pode ser dito da experiência docente. Cantamos e dançamos nos jardins – as salas de aulas do curso de licenciatura – porém a picada de uma cobra, como aquela que ceifou a vida de Eurídice e o destino de Orfeu, nos faz descer aos infernos – para chegar àquele que é nosso fim último, os Campos Elísios – que representaria a sapiência, isto é, a sabedoria que define o falso-fim escolar, em sentido vocacional.

A diferença entre os jardins – as teorias educacionais e os conteúdos específicos – e os infernos que nos separam do Elísio é, talvez, o maior problema que um licenciando enfrenta. As cargas horárias, os trabalhos, os seminários e apresentações não são nada. Somos escolares vocacionados , é o que fazemos. Entretanto, os infernos – que representa a prática docente, ou seja., a práxis educacional – são os desafios e terror que jamais se encontrarão nos jardins de rosas sem espinhos das salas de aula na licenciatura. Pois, citando as palavras do Mago Gandalf à Bilbo Bolseiro, um acomodado ao pacifismo “condadino”, podemos definir o que significa esta práxis: “O mundo não está em seus livros e mapas. Ele está lá fora” (TOLKIEN 2012). Veja que Gandalf não desdenha deste saber técnico, mas critica-o como fim em si mesmo, sem qualquer ação à respeito de viver o mundo do qual se tanto lê ou registra-se em mapas. Do mesmo modo, os licenciandos devem armar-se com estes livros e mapas – a didática, a psicologia, história e, talvez, amor, mas com certeza coragem – para descer aos infernos onde os demônios dançam sobre o fogo e fumaça. Mas talvez demônios seja uma palavra forte demais ou mesmo falha; preferindo-se, assim, as de Calzabigi: fúrias, encarnação de terror e ódio – uma analogia para alunos – que bradam: “Quem se atreve a entrar os portões de Erebus? Que desafiaram Hércules e Piripiteu? ”. Nós, professores.

Como Orfeu, devemos lutar, mesmo que sem esperanças, para aquecer o coração das fúrias e conduzi-las ao Elísio. A práxis, sintetizada em programas de iniciação à docência ou no próprio estágio, são exatamente o despertar para o mundo que está lá fora, e a única maneira de alcançar o Elísio, que se transpõe, não mais para nós, mas para as fúrias, que se negam por sua própria natureza indistinta, e também se transpõe o nosso fim último, ao aquecer seus corações.

Por fim, devo recomendar aos leitores que ouçam o fragmento operístico utilizado para escrita deste texto que está disponível no YouTube em:

https://www.youtube.com/watch?v=_dzpU5Kpj3M

Gabriel Ap. Rotta de Toledo – Licenciando em Matemática pelo IFSULDEMINAS – câmpus Pouso Alegre

Referências

FILLOS, L. M.; MARCON, L. C. J. O Estágio Supervisionado em Matemática: Significados e Saberes sobre a Formação Docente. In: X CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, 2011, Curitiba. Anais… Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2011. p. 1689-1701.

 

GLUCK, C. W.; CALZABIGI, Ranieri de’;  Orfeo ed Euridice. Viena, 1762.


TOLKIEN, J.R.R; O Hobbit, 6ª ed – São Paulo: Editora WM Martins Fontes, 2012.

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